domingo, 17 de fevereiro de 2008

Os Caretas



Nos anos 80 só existiam dois tipos de careta: o careta arretado e o careta mijado. O careta mijado era o careta desajeitado, pobre de adereços. O careta mijado não preparava sua roupa: tudo era improviso; um paletó velho, a calça do avô, uma camisa emprestada. Não manuseava bem as técnicas de relho nas apresentações. Podia também ser uma criança, que pela arte da chacota era apelidado dessa forma. Talvez essa expressão tenha surgido fazendo referência aos pequenos, que ainda eram "mijões"e não eram caretas dos grandes. Mesmo arrumadinhos pelas suas mães com todos os adereços, os simpáticos caretas mirins corriam o risco de se aborrecerem com tal apelido. Pura gréia. Pobres guris. Caretas grandes não se misturavam com os pequenos. Isso é perfeitamente compreensível, visto que os caretas chamados de grandes não passavam de adolescentes, e que pela idade é comum atuarem em grupos fechados, nos mais variados espaços. Uma questão de auto-afirmação. Prova disso é que as trecas (substantivo coletivo de careta) estavam vínculadas aos bairros, o que demonstra essa relação: os caretas da rua do Ginásio, do Alto da Boa Vista, da Encruzilhada.

Já o careta arretado era só brilho: muita fita de seda, lantejoilas, plumas, espelhos, cetim. Era um relho que estrondava nas ruas apertadas, como a rua do surrão. Era uma tabuleta feita toda com sinetas, sinônimo de ostentação. O careta arretado provocava admiração, pânico e terror nas crianças da cidade. Uma figura misteriosa, e para alguns aterrorizante...

Com o tempo o careta tornou-se uma figura pop pernambucana, junto com o caboclo de lança e o rei e a rainha do maracatu. Saber se isso foi bom ou ruim já é outra discussão. Mas sem sombra de dúvida tornou-se o ícone da cidade: Triunfo, a terra dos caretas. Hoje ser careta é um estado de espírito, uma brincadeira que não tem idade, sexo ou orientação política. Uma figura acima de tudo respeitada e querida. E o careta mijado?Aquele desajeitado? Entrou em extinção.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lembro quando criança, me escondia dentro do guarda-roupas ou em baixo da cama com medos dos caretas.